Dedicatória do blog



Dedico esse blog a memória dos inesquecíveis VICENTE ANTUNES DE OLIVEIRA e Dr. MURILO PAULINO BADARÓ, amigos desta e d'outra vida!!! Ambos estão presentes na varanda da minha memória, compondo a história de minha vida, do meu ser e da minha gênese! Suas vidas são lições de que se beneficiariam, se fossem conhecidas, grandes personalidades e excepcionais estadistas. Enriqueceram o mundo com suas biografias e trouxe ao mundo a certeza que fazer o bem é possível, até mesmo na POLÍTICA!


Dedico também a meu trisavô Firmo de Paula Freire (*1848-1931), um dos maiores servidores da república no vale do Jequitinhonha, grande luminar da pedagogia da esperança!

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Nossa Fé e Nosso FUturo

quinta-feira, 31 de outubro de 2013

Breve Nota de uma leitura

Um autor e seu livro


"Liber immortalizes homine et ponit in mente divina. Johannes: Ecce vidi libro vitæ, et nomen omnibus quæ scripta sunt in eo. Ut mente Dei est tabula in qua scribimus a corde sanguis ac pietas et qui diligunt nomen ejus quis".


I

Ao criar o ser humano, Deus doou-lhe parte de sua essência, uma das quais indispensáveis, o dom da generosidade. Incontáveis são os dons vindos do Pai, o verdadeiro Oleiro, o primeiro artesão, porque com suas mãos e com o barro fez o Homem, em momento de profundo amor e coroando o ápice de sua obra criativa.

Sem nenhum favor ou uso de desnecessária retórica, parece-me que Ele se esmerou ao colocar o homem no nordeste, que une o sabor brasileiro da unidade com um modus vivendi todo seu, todo moldado numa cultura sui generis, formatada na tempera rija do sertanejo queimado de sol e na delicadeza imensurável que se esconde por trás duma valentia mais épica e burlesca do que antropológica ou psicológica. Aliás, é nisso que reside a beleza do ser humano, na sua feição local e regional; na sua conformação inteira que nasce de cada estado, Nação e condição social. O traço que une tudo isso é a certeza do amor e a necessidade de amar.

Se uma lição recebi de generosidade foi do escritor cearense Almir Gomes de Castro. Estava eu ultrapassando uma crise diabética, com dores nos pés e nas extremidades, visão embaçada ao extremo, e conversava sobre isso com um seu colega, mais que isso, amigo. Sem mais nem menos, ele ofertou-me seu livro “Kuriquiã: O romance das águas claras”, no qual narra a epopeia romanesca de Jorge Tufic, um poeta de sangue árabe e verso alado, cujos ascendentes radicaram-se no Acre, migraram depois para o Amazonas e agora fixaram-se no Ceará.

Mas é bom que se fale de Almir Gomes de Castro. Cearense da gema, embora bem formado e dotado de boa cultura, ele traz desde a superfície da epiderme até a medula as boas tradições daquele Ceará bravio, decantado por Catulo da Paixão Cearense, Antônio Salles, Juvenal Galeno, Gerardo Melo Mourão, Américo Facó, Humberto Teixeira (o grande parceiro de mestre Lua Gonzagão), com Patativa do Assaré na prateleira de cima. Francisco Sá, mineiro de boas letras e cultura, após breve carreira política em Minas, radicou-se lá nas plagas cearenses, onde conubiou-se com Olga Nogueira Accioly, filha do potentado local e descendente dos mandatários sertanejos do Cariri-Juazeiro. Como pesquisador de genealogia brasileira, recorro sempre as fontes cearenses que reputo de boníssima procedência, entre eles João Brígido, Barão de Studart e Francisco Augusto de Araújo Lima, são dos mais frequentes.

Médico traumato-ortopedista e anestesista de nomeada em Fortaleza, ele vive mesmo é de emendar nervos, costurar carne, lenir dores e emendar ossos. E... ossos do ofício, ele descansa escrevendo.
Nele impera o verbo claro, a narrativa viva e o amor latente pela sua terra. Assim vejo.

II

         O livro “Kuriquiã”, é quase que um roteiro cinematográfico, com imagens vivas e diálogos bem estruturados, num história baseada num enredo emocionante e pulsante de vida. Partindo das origens familiares e clânicas dos Tufic, povo de terras longínquas e diferentes, tão distantes do risco geográfico do Ceará quanto a Lua do Sol.

A Enciclopédia Delta Universal, registra o seguinte sobre a origem da família Tufic:
Toufic, em árabeتوفيق, é um nome tradicional dado ao gênero masculino. É o equivalente hebraico תוביק do macho de nome Tovik ou Tuvik. Ambos os nomes nascem do semítico antigo e significa "bom", "êxito", "Deus está bem com você", "reconciliação" ou "boa fortuna". É também plausível como um sobrenome. Registram-se as seguintes variantes de escrita e pronúncia: Toufik, Toufick, Tofik, Tofic, Tofick, Tovik, Tovic, Tovick, Touvik, Toviq, Tufic, Tufik, Tufick, Tuvik, Tuvic, Tuvick, Tuviq, Taufic, Taufik, Taufick, Tawfiq, Tawfik, Tawfic, Tawfick, Tewfik e Tefik. "Toufic" e "Tovik" são semelhantes a "Tobias", segundo várias transliterações.

Acho que Almir Gomes de Castro, em momento feliz, resolveu botar no papel a alma e a biografia desse grande poeta, cuja revolta genética trasmuda em alta sensibilidade poética e compreensão humana, porque vindo de uma parte do globo fértil em conflitos clânicos e religiosos. Acolhidos no Brasil, terra de contrastes sociais e políticos, mais de uma democracia humana e econômica de rara amplitude, sentiram-se envoltos pelo manto da acolhida e o aconchego do amor do povo acreano. À isso Tufic devolveu em versos de inspirada feição canônica no soneto em poemas lindíssimos que nascem da sua fina sensibilidade.

Mas o livro não é uma biografia, e sim uma história romanceada do poeta, alado e contido ao mesmo tempo.

Perpassando as páginas, vai se enredando na Amazônia lendária, densa e quente, tropical e nebulosa, cujos cantares o autor transcreve em seu texto límpido e escorreito.

Muito apropriadamente, o ilustre Caio Porfírio Carneiro diz que o livro é um bom roteiro de filme. Agente o livro e participa das pescarias e das aventuras dos ribeirinhos, Salazar, Ritinha, Estevam, Dr. Hélio Abreu, o velho Libório... São muitos personagens, porque a estória pulsa na correnteza da memoria de Almir, que as derrama sobre o papel. Sem compromisso com a chatice da descrição histórica e cronológica, ele traça um perfil biográfico bem acabado do poeta Tufic, dando como pano de fundo a Amazônia misteriosa e acontecimentos históricos brasileiros e internacionais. Mas sem dar aula de história. O sabor do livro reside nisso.

O romance de uma vida também é um canto de esperança. O termo final é lindo, denso e especialmente terno, embora remeta à Caverna do Inferno.

III

         Grato aqueles que registraram impressões sobre seu precioso livro, o autor reúne ao final do texto uma farta fortuna crítica, com nomes consagradas da nossa literatura e opiniões bem abalizadas emitidas sobre seus vários escritos. Fez muito bem, embora que foi muito oneroso para o autor, engrossando o caudaloso romance.

Prova maior de que o traço maior da sua personalidade é mesmo a generosidade. Aproveito para agradecer a obra e a viagem proporcionada pelo romance de sua lavra. Aprendi a ser mais brasileiro com o cearense Almir. Pena que nada posso ensinar. Mas agradeço pela graça da audiência e o privilegio da atenção.


É o que sinto após a leitura de seu “Kuriquiã”.

Dr. Almir Gomes de Castro, contista, romancista e poeta, além de cordelista.
O amor a medicina e a literatura norteiam sua vida.

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