UMA EFEMÉRIDE INESQUECÍVEL
Valdivino
Pereira Ferreira
Escritor
e ensaísta
Volto
ao tema do centenário de Vivaldi Moreira, senão o maior, ombreando com os
maiores expoentes do século XX, nascido nas fraldas dessas montanhas gerais.
Homem votado à cultura, fez das letras seu ideal maior; e dos livros seus
melhores e maiores amigos. O advogado Vivaldi Wenceslau Moreira nasceu em 28 de
setembro de 1912, na cidade mineira de Tombos, aquele tempo distrito da cidade
de Carangola. Foi um sacerdote na carreira jurídica, dedicando sua vida à
serviço da causa pública e do Tribunal de Contas de Minas. Desdobrou-se também
na escrita jornalística, tendo encetado brilhante carreira de repórter, redator
e articulista de importantes publicações sediadas no Rio de Janeiro e Belo
Horizonte, entre elas jornais e a “Revista da Associação Comercial de Minas
Gerais”, da qual foi secretário à convite do inolvidável José de Magalhães
Pinto.
Foi
no inicio da década de 1940, que ele transferiu-se definitivamente para a
capital mineira e, durante o governo Milton Campos (1947-1951), foi Chefe de
Gabinete da Secretaria das Finanças, pasta cujo titular era o próprio José de
Magalhães Pinto. Em 1949, Vivaldi
Moreira foi nomeado Auditor do Tribunal de Contas do Estado de Minas Gerais. Dez anos depois, foi eleito membro da Academia
Mineira de Letras, com a unção do preclaro intelectual Djalma Andrade, que
então presidia o sodalício acadêmico. Foi um caso de amor entre o imortal e a
casa de Alphonsus de Guimarães, da qual se tornou presidente vitalício desde
1975. Teve carreira brilhante no Tribunal de Contas, sendo que em 1964, foi
elevado a Conselheiro, vindo a ocupar a Presidência da Casa entre os anos de
1967 e 1970 e no ano de 1980. Depois de aposentar-se na Corte de Contas, no ano
de 1982, a pedido de Tancredo Neves, foi nomeado Diretor da Imprensa Oficial do
Estado de Minas Gerais. Ficando ali dois anos.
Porém
foi na Academia Mineira de Letras seu maior legado, a meu ver, construído.
Dotou-a de sede própria, inclusive trazendo para o seio dela o que de melhor
Minas possuía em poetas, escritores, expoentes e homens de grande significado
para o espírito da mineiridade. Acho inclusive que o próprio Vivaldi foi um dos
lídimos representantes da nossa mineiridade, do sentido de “ser” mineiro; de um
escritor nascido da vocação de comunicar, de registrar na memorialística um
período rico e importante para todos os montanheses.
Sua
devoção aos livros foi proverbial. Isso quem nos conta é seu amigo Sr. Adão,
que o acompanhava diariamente na faina de limpá-los, esmerilá-los com a camisa
imaculadamente branca. Certo dia, ao remexer livros e estantes, estas desabaram
em cima dele, causando imenso barulho na Biblioteca Acadêmica. Seu Adão veio
logo acudir, tirando livros e livros de cima do octogenário Vivaldi. Este, após
socorrido, levanta-se limpando a poeira, vira-se para Adão e diz – entre solene
e humorado:
—
Que morte linda não teria sido, ‘Dão” – junto de todos os meus amigos!
E
continuou abrindo livros e limpando-os, remexendo estantes e jornais, opúsculos
e discursos, pois o rio da sua vida ali nascia e ali mesmo desaguava. Tudo isso
ante o espanto e o susto de seu Adão.
Decorridos doze anos de sua partida, pois
faleceu aos 88 anos, em 2002, ainda a luz da sua vocação continua iluminando os
salões do “Palacete Borges da Costa”, e a presença espiritual do seu exemplo
acalentando a Cultura de Minas, eterna em nós enquanto vivemos. Os dezessete livros
de sua autoria publicados servem-nos de pasto alimentar e espiritual, razão
pela qual a Casa de Alphonsus de Guimarães é também de hoje para sempre a “Casa
de Vivaldi Moreira”.