Dedicatória do blog



Dedico esse blog a memória dos inesquecíveis VICENTE ANTUNES DE OLIVEIRA e Dr. MURILO PAULINO BADARÓ, amigos desta e d'outra vida!!! Ambos estão presentes na varanda da minha memória, compondo a história de minha vida, do meu ser e da minha gênese! Suas vidas são lições de que se beneficiariam, se fossem conhecidas, grandes personalidades e excepcionais estadistas. Enriqueceram o mundo com suas biografias e trouxe ao mundo a certeza que fazer o bem é possível, até mesmo na POLÍTICA!


Dedico também a meu trisavô Firmo de Paula Freire (*1848-1931), um dos maiores servidores da república no vale do Jequitinhonha, grande luminar da pedagogia da esperança!

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sexta-feira, 6 de dezembro de 2013

Registro Literário

ENTRESSOMBRAS DE LUZ


Yeda Prates Bernis havia prometido não mais lançar livros. Era justo com ela e injusto conosco, sempre ávidos do alimento espiritual colhido e dispensado por ela para o nosso repasto. Sempre insisti para que ela rompesse com essa promessa, primeiro porque seria muito bom para a literatura mineira e, segundo, porque seria melhor para nós, seus leitores. E então agora ela resolve fazê-lo, sete anos após subir ao Olimpo da cultura mineira e ultrapassar os umbrais da Academia Mineira de Letras, coroamento de uma carreira luminosa nas letras e construção minuciosa de uma obra altíssima, pontuando Minas no cenário das melhores poetas do Brasil, ombreando com as estrelas solares Henriqueta Lisboa, Cecília Meirelles e Stella Leonardos. Essa última ainda encantando à todos nós e produzindo poesia como nunca. As duas últimas vivendo nas belas páginas que escreveram e em nossos corações.

Yeda é de uma economia verbal proverbial. Mas esbanja demonstrações de afeto, e devo confessar, não conheço quem tenha um coração mais generoso que o seu. Escreve pouco. Seus poemas são curtos, com palavras bem escolhidas e apropriadas para o temário que escolhe. Busca em tudo o que escreve a transcendência espiritual, talvez numa reminiscência psicológica do iluminado aprendizado haurido das lições com a mestra de todos os poetas — a grandiosa Henriqueta Lisboa — de quem foi aluna na mocidade e uma espécie de herdeira espiritual e intelectual após a sua partida para o plano superior, uma vez que cursou “Letras Neolatinas nas Faculdades Santa Maria”, embrião do que é hoje a atual PUC Minas. A aluna conservou durante toda a vida, profundo respeito e imensa gratidão pela mestra veneranda, que a encaminhou no caminho das letras e deu-lhe os primeiros incentivos no artesanato poético. Acho que Henriqueta ainda é uma presença muito marcante na vida e na literatura de Yeda. Mais que forte, profunda.

Acometida por uma degenerescência macular, uma doença na qual a mácula, a parte central e mais vital da retina, se deteriora e embaça a visão —, atualmente ela se compraz em ver os livros pela ótica de outros, e a sentir a emoção neles aprisionada pela contenção da leitura no som da voz alheia. Sua empregada Maria do Carmo, mais amiga que serviçal, se encarregava desse prazer. Foi emocionante para mim vê-las ambas viajando pelo mundo de Eça de Queirós, romancista português de sua predileção. Parece-me que uma completava a outra nessa grande viagem que é a leitura de “Os Maias”, a grande radiografia de uma época e dos costumes sociais da gente portuguesa.

Seus poemas, escritos à conta gotas, estavam sendo publicados ultimamente na Revista da Academia Mineira de Letras, entregues à digitação e revisão de Marília Moura, mas para um público resumidíssimo, uma vez que apenas os assinantes e membros da AML, tem acesso à ilustrada publicação. E agora vem ela de editar, em âmbito pessoal, mais um livro de altíssimo nível, a que ela intitulou “entressombras”. O livro tem o pórtico de entrada com a apresentação de Maria Lúcia Simões e o prefacio de Lina Tâmega Peixoto, duas amigas conhecedoras de sua obra e de sua vida, embora ambas tentem escrever sem contaminar o texto com o vírus da grande devoção que partilham pela poetisa maior das Minas na atualidade.


O livro não traz pontos altos porque ele todo conserva uma unidade criadora inigualável, uma inspiração superior e um canto em tom maior às coisas mais sublimes da vida. As epigrafes são escolhidas à dedo e refletem o alto poder de concisão da autora aliada à compreensão que ela busca nas pequenas coisas que a cercam e permeiam a sua vida. É também um livro biográfico, pessoal, reflexivo de seu mundo interior e da visão alcançada após a impiedosa degeneração macular. Quando se lhe foram fechadas as janelas oculares de seu corpo, o sol da esperança penetrou-lhe as entranhas — corpo, alma e espírito —, para visse em outro plano e de outra forma, aquilo que só o sentimento plenamente educado e contido é capaz de mostrar: a esperança nunca acaba! A visão espiritual transcende o corpo e vai ao cerne do espírito. O espírito sempre achará um atalho para chegar ao plenilúnio do amor e ao ápice da criação. Ler “Entressombras” é adentrar o mundo de Yeda, com seu consentimento e intimidade, e desvendar seu mundo. Foi uma gestação difícil para um filho no outono da vida, mas talvez o filho que faltava para o complemento dos outros filhos literários dados à luz em toda essa caminhada. Após os poemas recolhidos “Entre o rosa e o azul”, ultrapassar o nublado de “Enquanto é Noite”, sarar a “Palavra Ferida”, mostrar seu rumo em “Pêndula”, saciar seus leitores com o “Grão de Arroz”, navegar “À beira do Outono”, mirar o mundo “Encostada na Paisagem”, destilar sua sabedoria em “Anotações sobre Zen e Hai-Kai”, nos brindar com sua maviosa “Antologia Cantata”, desfilar com seu “Viandante” companheiro da vida inteira, ela nos convida para adentar seu mundo: “Entressombras”. Digo ao leitor que aceite o convite, porque o mundo de Yeda é um facho de luz, um nicho de amor e um rancho de paz. E as sombras de seu mundo é um pouco de entreluz.


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