Dedicatória do blog



Dedico esse blog a memória dos inesquecíveis VICENTE ANTUNES DE OLIVEIRA e Dr. MURILO PAULINO BADARÓ, amigos desta e d'outra vida!!! Ambos estão presentes na varanda da minha memória, compondo a história de minha vida, do meu ser e da minha gênese! Suas vidas são lições de que se beneficiariam, se fossem conhecidas, grandes personalidades e excepcionais estadistas. Enriqueceram o mundo com suas biografias e trouxe ao mundo a certeza que fazer o bem é possível, até mesmo na POLÍTICA!


Dedico também a meu trisavô Firmo de Paula Freire (*1848-1931), um dos maiores servidores da república no vale do Jequitinhonha, grande luminar da pedagogia da esperança!

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quinta-feira, 1 de março de 2012

rodapé de crítica literária 2



CELY VILHENA: CANTARES E SONHARES

Valdivino Pereira Ferreira
Ensaísta e crítico.


Minas é dona de imensa riqueza literária, dispersa pela timidez de seus literatos e encoberta pelas névoas que recobrem suas montanhas. Engana-se quem pensa que Minas é só ferro, só aço, só madeira. Viga mestra da nação, quando ela se cala, o Brasil sempre perde; mas através da sua fala mansa e da sua percepção intima, adentra o coração do sentimento, descobrindo a alma das coisas, dos seres, abrindo a estrada para o entendimento de nossa alma pátria.

Acho que é o caso de Cely Vilhena, a grande poetisa nascida em Conquista, varias vezes premiada e mestra na arte do romanceiro, arte que ela aprendeu pela leitura constante de Stella Leonardos, a cultora-mór dessa modalidade no Brasil. Cely Vilhena adquira a mesma qualidade homogênea da obra, a mesma densidade inspirativa, o mesmo ritmo musical e a altura qualitativa de Cecília Meirelles, outra poeta maior no romanceiro brasileiro. Dona de produção exígua, como sempre acontecem com aqueles que são ciosos de sua confecção poética, ela atinge alturas inacessíveis na poesia com o romanceiro “Clara e Francisco de Assis e de Deus”, editado sob o manto da homenagem aos patronos espirituais das Academias Feminina e Municipalista de Letras de Minas Gerais. Encantou-me a leitura do “A casa do menino”, livro dedicado todo a memória de Vivaldi Moreira, intelectual de corpo e alma, presidente do Tribunal de Contas de Minas e da Academia Mineira de Letras, homem devotado à vocação das letras e às coisas superiores do espírito.

Cely Vilhena tece seu poema com mãos de fada, olhos de mãe e coração de mulher, por tudo o que ela coloca na sua confecção. Seus cantares são acalantos para nossas almas sedentas, ávidas, famintas, do alimento poético. Esse provê com imensa qualidade, em quantidade, para seus leitores. Se João Cabral de Mello Neto educa pela pedra na sua imobilidade sentimental; Cely educa pelo sentimento, contido e dosado, temperado pelo bom-gosto e a boa compostura (não que a poesia de Mello Neto não seja boa, pelo contrario: é ótima). Seu artesanato poético é obra que demanda tempo, pois é provinda de seu pensamento e a sua filosofia nasce da utilidade do poema. Porque um romanceiro de Santa Clara e de São Francisco? Porque o mundo nunca foi mais carente do que agora. Porque relembrar a “Casa do menino”? Porque nunca nossas raízes foram mais dispersas, arrancadas e esquecidas, do que hoje. Porque a vocação do ser humano é cuidar, preservar, prolongar, prover: a vida como um todo. Inclusive a vida espiritual, que começa neste reino e neste mundo, conforme a sentença do Cristo ensinando o Pai-Nosso: “Veni regnum tuum fiat voluntas tua sicut in caelo”.
           
Ninguém celebra o amor com maior maestria do que Cely Vilhena. Como prova, transcrevo o belo poema “Em quando me amardes”, publicado na Revista da Academia Mineira de Letras [ano 84, volume XXXIX, jan-fev-mar 2006, página 247]:

Não pervagarei vossos mares
a minha limpidez de água
clara
de vossos mares não sou.

Sou água de mil nascentes
das entranhas das montanhas
ou remansos das caçoulas
e se me acolherdes, vou.

Não andei por vossos passos
os percalços de meu sonho
alado
de vossos passos não sou.

Sou pés de muitos caminhos
calçados de flor e espinhos
ou suspensos de estupor
e se me aguardardes, vou.

Não voei por vossas asas
meu vôo leve de garça
tímida
de vossas asas não sou.

Sou pena que rodopia
no nó de redemoinhos
ou céus que mudam de cor
se me arrebatardes, vou.

Não adentrei vosso leito
meu corpo desse húmus feito
argila
de vosso leito não sou.

Sou tessitura de junco
urdindo nos entrelaces
os fios de meu destino
em quando me amardes, vou.”

Tecendo seu manto poético com maestria e com mãos de fada ninando as palavras, Cely Vilhena segue seu destino de dar voz à alma no cantochão sentimental de Minas. Faz coro com outras poetas de imenso valor que o ferro na alma não elidiu o som de suas cordas voco-espirituais, cujo som ressoa pelo céu poético do Brasil e reboa em nossas montanhas gerais. Se no sétimo dia Deus fez o homem, depois do homem Ele criou a poesia, tal a necessidade que dela sentimos. Segredo que Cely Vilhena descobriu e usa seu mistério para compor seu manto ─ poético e biográfico ─ e nos embriagar de palavras, sentimento, encantamento, elementos distribuídos por sua escrita maravilhosa.


Cely Vilhena de Castro Falabella, discursando na AMULMIG,
tendo ao fundo a senhora Maria da Conçeição Antunes Parreiras Abritta.


  Cristo ensinando o Pai-Nosso "começa neste reino e neste mundo do poema. duca pelo sentimento, contido e dozado, Letras, home

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