UM HOMEM E SUA SILHUETA
Da esquina da avenida Olegário Maciel com a praça Raul Soares o seu
vulto surge devagar e constante em minhas retinas. A sua presença no Instituto
Histórico é um instinto, é como o ar de cada respiro, o sol de cada manhã, a
bruma de toda madrugada. Ou seja, existe uma simbiose entre o homem e a
instituição que ninguém desfaz. Após o abraço da chegada o assunto é infindo:
história, genealogia, folclore e cultura. Famílias de Minas que construíram a
imaginária da república no Brasil e plasmaram na Nação uma República mais da
lei do que homens, com João Pinheiro na prática; seguido por Milton Campos na
teoria. Essa Casa de João Pinheiro tem alma e tem médium: professor Herbert
Sardinha Pinto. Ex-presidente da Casa, ele fez do IHGMG uma extensão do seu
apartamento. Rende seu culto à história de forma apaixonada, buscando inserir a
verdade em tudo que faz. Católico praticante, quando da visita do Papa João
Paulo II, foi o cerimonialista oficial da Nunciatura em São Paulo, por sugestão
de João Resende Costa. Mais aqui ele abandona a liturgia e a ritualística para
examinar papeis, preencher formulários e redigir atas. Fixando a história da
casa de seus maiores através de documentos.
Desses homens ele tem a história ouvida na cozinha e colhida na fonte
limpa da família. João Pinheiro da Silva (*1860−†1908), foi mais que um homem
de estado. Figura impar das montanhas, foi o doutrinador da república quando
ela ainda vagia em seu berço. Reabro o baú da memória e lembro-me de vovó
Cecília contando a história de seu avô, coronel Firmo de Paula Freire, que
viajara de Minas Novas a Ouro Preto para assistir ao primeiro Congresso Republicano
em Minas (1889). Fora em companhia de seu amigo Dr. Francisco Coelho Duarte
Badaró (*1860−†1921), homem de boas letras e caráter adamantino, e tiveram que
retornar imediatamente em razão de doença no seio da família. Afonso Arinos, em
seu extraordinário “Afrânio de Melo Franco: Um Estadista da República”,
corrobora a notícia. As revistas do Instituto consignam a versão.
De Israel Pinheiro, o artífice de JK, conta-se que vestia calças
remendadas por dona Coracy. Bons tempos onde o dinheiro público era usado por
homens que sabiam fazer bom uso dele. Relembro o fato e ouço a emoção do respeitável
ancião.
Preciso sair. Dói dizer adeus ao velho querubim tutelar da Casa de João
Pinheiro. Despeço do homem mais o seu vulto segue-me na lembrança e imaginação.
Pela voz dele ouço as lembranças de Minas e revivo um tempo que definiu a
fotografia histórica dessas gerais.
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