A POESIA
INSÓLITA DE PETRONIO SOUZA.
Valdivino
Pereira Ferreira
Conheci o jornalista Petrônio Souza Gonçalves levado pela
amizade de Murilo Badaró, consistindo assim, num espolio espiritual daquele
eminente mineiro do qual me fiz herdeiro. É um moço esforçado, daqueles a quem “Carlos
Drummond de Andrade” costumava dizer que muitos lhe querem bem e todos lhe
devem alguma, desde uma atenção até um trabalho mais penoso. Vive de trabalhar
com as letras, jornalista que é, e de brincar com elas, poeta que também é em
manhãs boreais de inspirações múltiplas. Após “Adormecer os girassóis” e compor
o memorial de sua casa velha, lapidando palavras em contos e versos, escavando
em sentimentos pela geografia acidentada de seu caminho, ele vem agora com “UM
FACHO DE SOL COMO CACHECOL”, seu mais recente lançamento. Há que se registrar a
beleza do conjunto da obra, cuja impressão gráfica, editoração e correção da
linguagem, marca de seus trabalhos, honram a casa editora que confeccionou o
livro. Seu livro “Um Facho de Sol como Cachecol” está percorrendo o Brasil, no
dia 11 de agosto de 2015 o escritor esteve em João Pessoa, na Paraíba, onde
palestrou, e no dia 15, em São Tomé das Letras, em Minas Gerais. A critica,
pelo jeito, tem recebido bem o “Um Facho de Sol como Cachecol”, composto por
231 poesias sem título, o que é uma inovação na composição dos versos pelo
autor. Os poema são iniciados com a primeira frase destacada, que passa a ser o
título de cada texto.
Na opinião do
celebrado cronista Luís Fernando Verissimo, “o autor é uma revelação na poesia,
um elo entre o lírico, o irônico, o insólito e o confessional”. De fato, a
poesia de Petrônio se faz única, bela e atual, sem os vícios da cópia e do
plágio, tão comuns nesses tempos de facebook e internet. Também não tem o
rebuscamento que muitos põe no poema, tirando dele a essência do ternamente
simples, matando a ‘escola pedagógica da humildade de Manoel de Barros, cuja cátedra
é inigualável’. Poesia telúrica, lembrando das coisas da terra, das vivencias
que o acompanham seu caminhar, expressando dureza e cicatrizes, como nesse
poema: “Marimbondo fez morada em meu peito, mostrando o abandono do meu coração
sozinho”, cuja solidão espiritual transcende a física, pois o burburinho da
capital, às vezes, se faz numa solidão de amigos, como cantava Jessé nos
festivais de outrora. Constatações duras para o nosso tempo: “No desdouro de
nossas vidas, o AMOR pede socorro”, tempo que brinca de lhe enfeitiçar. Parece-me
que o português Fernando Pessoa, na sua figura do guardador de rebanhos, lembra
em sua obra atual pedaços de sonho, nacos de madrugada. Agruras da sorte, para
ele, é inspiração: “Filho da má sorte e do garimpo, tenho sangue prata do
mercúrio...”. Há ternura: “Minha mãe, tem uma alegria contida” e “Sou um
pouquinho da minha casa, um quarto saudade”. Ou ainda, para expressar seu
telurismo contemporâneo: “em Minas tem uma esquina, que tem uma mina que brota
poesia”, ou talvez, para alar suas ansiedades, veio com esta: ”Plantarei
borboletas nas asas da liberdade”.
Na voracidade do tempo, os versos que
ele inspira neste livro se destinam a resistir, a permanecer, como se fossem epitáfios
gravados na pedra.
Segundo o
escritor Alcione Araújo, “Petrônio fantasiou e coreografou nossas surradas
palavras para dizer com “Um Facho de Sol como Cachecol”, de um jeito que jamais
diríamos”.
Pois é, o Petrônio é caçador de
palavras, que as segura pela beleza das suas mãos ternas e generosas, extensão de
seu coração que borbulha caridade poética.
Em 2005 ganhou o Prêmio Nacional
de Literatura “Vivaldi Moreira”, da Academia Mineira de Letras, como
segundo colocado. Também participei do concurso, recebendo uma menção honrosa,
e fiquei honrado em saber que fui suplantado pela inteligência multiforme de
Petrônio. Pois ele mesmo é como “Um Facho de Sol como Cachecol”. O autor
esmerou-se em se fazer poeta para celebrar o momento, perenizar as coisas
pequenas, sempre relegadas a lugar nenhum por nós mesmos. Após a leitura da sua
obra recente, sentimos em nós a grandeza das coisas pequenas, dos grãos de
areia que se unem para formar a praia, das gotículas d’água que se unem para
formar o oceano. E partimos para o paraíso da nossa saudade, terra da utopia
que não nos abandona.